Euclides da Cunha

Eu não tenho vocação para a espada, a arma que eu sei manejar é a pena.

Artigos


Voltar

27/04/2012

A idéia da “Casa de Euclides” ou “Casa Euclidiana”, batizada depois, não sei por que, como “Casa de Cultura Euclides da Cunha”, concretizou-se em 1946, quando, pelo então Interventor José Carlos de Macedo Soares foi assinado o decreto de sua criação que tomou o número 15.961. Meu plano, porém, vinha de longe.

Pensei no assunto, ali por volta de 1938. Esbocei um projeto de decreto-lei, que submeti ao exame do inditoso Álvaro Guião, àquele tempo secretário de Educação. Tomando conhecimento da matéria, esse titular, homem inteligente e administrador dinâmico, encaminhou o processo (a burocracia abre logo um processo...) ao Departamento de Educação , merecendo, sem demora, um parecer favorável do diretor-geral, prof. Dario Dias de Moura, que sugeriu pequenas emendas.

Segue o processo, então, seus sempre embaraçantes trâmites legais, voltando, depois, às mãos do dr. Álvaro Guião, que o  estudou comigo, mais uma vez, nada tendo a acrescentar. Tomou da pena, com indisfarçável satisfação, e, na primeira página,escreveu, com aquela caligrafia, clara e fina: “Aprovado”. É fácil imaginar o meu contentamento. No dia seguinte, infelizmente, morria, no sul de Minas, num desastre de aviação, o Secretário de Educação! Perdeu São Paulo, talvez, um futuro estadista.

O processo não teve andamento senão meses depois, graças à diligência de meu querido amigo Aluisio Lopes de Oliveira, então diretor-geral da Secretaria, um alto servidor paulista que, no desempenho de suas funções, se distinguia pela sua cultura e caráter.

Procurei apressar a solução de um caso já aprovado, mas que oferecia, como tantos outros, no Brasil, uma dificuldade, que é quase uma tradição – a falta de continuidade administrativa.

Com a nomeação de Fernando Costa, em 1941, para os Campos Elíseos, ocupa a Secretaria de Educação o Prof. Teotônio Monteiro de Barros. Voltei à carga. O titular achou feliz a iniciativa, mas, tendo sido criado, a essa época, o Conselho Estadual de Bibliotecas e Museus, era de sua alçada o assunto. E, realmente, o era. Depois de longa busca para encontrar o tal processo, é ele encaminhado ao Conselho, que Abelardo Vergueiro Cesar fundou e animou com seu entusiasmo. Mas (sempre há um “mas” para atrapalhar...) embora o projeto suscitasse encômios desse órgão cultural, nada se pôde fazer por falta de verba. Em geral, há, neste país, verba para tudo. Menos para os empreendimentos culturais.

Isso foi, mais ou menos, em 1942.

Não esmoreci. Mais forte que os obstáculos foi a minha vontade, minha teimosia.

Em 1944, o novo titular de Educação, prof. Jorge Americano, meu mestre e amigo, vai a São José do Rio Pardo, não sei se para presidir às comemorações euclidianas ou, simplesmente, para visitar o Sanatório do Sapecado. Regressou encantado com o culto a Euclides.

Chamado ao seu gabinete, perguntou-me, uma tarde, o que se poderia fazer no sentido de dar uma significação, ainda maior, aos festejos de 15 de Agosto, às margens do rio Pardo: falei-lhe, então, do projeto que dormia largo sono numa gaveta de papéis inúteis. Jorge Americano, como era de seu feitio, não perdeu tempo. Quis ver o projeto.

É ouvido novamente o Conselho de Bibliotecas e Museus, de que era secretário Guilherme de Almeida. Apaixonou-se pelo empreendimento. Renato Maia dá parecer favorável, e, dias depois, o interventor o enviou ao Conselho Administrativo do Estado. Era no tempo do Estado Novo. A papelada voltou aos Campos Elíseos para preencher uma formalidade qualquer. A burocracia é sempre operosa e vigilante no sentido de criar tropeços, para combinar o § tal com o artigo não sei quantos. De novo, retorna o processo ao mencionado Conselho. Sempre aquele vai-e-vem tão a gosto dos assessores de paletós de alpaca...

Decorreram alguns dias. É inaugurado o movimento de outubro que marcou a volta do regime democrático. Provisoriamente.

Assume, então, o governo paulista, o inesquecível e querido Embaixador José Carlos de Macedo Soares, que me honrou com o convite para ocupar a direção geral do Departamento Estadual de Informações.

Continuei, então, meu trabalho. Sem desânimo. Expus o caso ao Interventor, que o acolheu com viva simpatia, compreendendo, de pronto, seu alcance. Reorganizado o tal Conselho, ao seu exame é submetido, ainda uma vez, o projeto. Foi, então, que contei com a inestimável colaboração da magnífica figura das nossas letras, que foi Cassiano Ricardo.

O Embaixador acompanhou de perto o andamento do projeto, fazendo questão de promulgar  a Lei a 14 de agosto de 1946. Em consequência, foi aberto um crédito de Cr$200.000,00, elevada importância para a época, para ocorrer às despesas com a instalação do Museu.

Pelo decreto-lei n° 15.985, de 26 do mesmo mês, ficou declarado de utilidade pública o imóvel em que, em São José, residiu Euclides da Cunha, à Rua Floriano Peixoto, antiga rua da Imperatriz.

Recomendou-me Macedo Soares, por mais de uma vez, que apressasse a desapropriação e a instalação da Casa, prevendo as dificuldades que de certo encontraria com a mudança de governo. Fiquei atento ao seu conselho. Imediatamente, procurei o diretor do Departamento Jurídico do Estado, o saudoso José Edgard Pereira Barreto, meu amigo, colega de turma na Faculdade de Direito. E ele, imediatamente, deu andamento ao processo.

Visa este singelo relato fazer justiça às pessoas que cooperaram no êxito do empreendimento, principalmente o Embaixador José Carlos de Macedo Soares, cuja memória merece ser sempre cultuada pelos rio-pardenses. Como devem estar lembrados, ele aqui esteve a 15.8.1946, vinte e quatro horas após ter assinado decreto de criação da Casa. Pela primeira vez, visitava nossa cidade.

Um dos objetivos da instituição é, além do culto a Euclides, o estudo dos problemas brasileiros. Para atingir tão alto propósito, é necessário que ela promova, anualmente, a edição de Arquivos Euclidianos, estampando as conferências aqui pronunciadas, além de dois ou três ensaios (bem remunerados) de ilustres figuras de nossas letras. Não serão esquecidos, naturalmente, os trabalhos dos primeiros colocados na Maratona, o que constituirá mais um estímulo para a juventude.





Rua Marechal Floriano, 105 - Centro
São José do Rio Pardo - SP - CEP: 13720-000
(19) 3608 1022